A escalada das tarifas dos Estados Unidos aos produtos importados impacta as cadeias globais de valor e produção. Acompanhe os desdobramentos para o Brasil e o mundo com o informe semanal
O tarifaço e a nova dinâmica ao comércio global
O cenário econômico global passa por uma nova onda de protecionismo. Todos os dias, novas decisões impactam as cadeias globais de valor e produção.
Para acompanhar os desdobramentos, a Agência de Notícias da Indústria estreia uma página especial com atualizações semanais sobre como o momento influencia a dinâmica do comércio internacional.
Boletim elaborado pelas áreas internacional e econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai reunir os acontecimentos e as ações da CNI.

Janeiro: A guerra tarifária entre EUA e China, e que respinga no mundo todo, escalou a partir da posse de Donald Trump, em 20 de janeiro de 2025. O presidente americano lançou mão de uma série de tarifas comerciais com o argumento de proteção à indústria americana e contenção geopolítica. A ideia seria proteger setores emergentes, como carros elétricos e painéis solares, por exemplo.
Fevereiro: Em fevereiro, os EUA anunciaram uma tarifa de 10% sobre as importações chinesas. A China reagiu e taxou produtos estratégicos dos EUA, como petróleo, gás, máquinas agrícolas e veículos. A tensão não parou na China. Os EUA também tiraram isenções para produtos de baixo valor de e-commerce; ameaçaram a União Europeia com tarifas sobre carros, vinhos e produtos agrícolas; miraram México e Vietnã, acusando os países de serem rota de desvio de produtos chineses; e até cogitaram taxas adicionais sobre produtos tecnológicos da Coreia do Sul e do Japão, em função da disputa no setor de semicondutores
Abril: A virada protecionista teve data para começar: 2 de abril, chamado pelo republicano de “Dia da Libertação”, com o governo dos EUA apertando o cerco para diversos mercados. Foram anunciadas uma tarifa básica de 10% sobre todos os parceiros comerciais e tarifas “recíprocas”, superiores a 10%, aplicadas individualmente a 57 países, mas adiada por 90 dias (com exceção da China).
Semana 21 a 25 de abril: vai e vem de tarifas para a China e Brasil na mira
O ioiô no tom de Donald Trump nesta semana, com algumas frases de impacto sobre as tarifas, movimentou o mercado mundial. Apesar de parecer recuar nos últimos dias, sinalizando que pode reduzir parte das tarifas aplicadas aos produtos chineses, o presidente americano foi rebatido pelo governo chinês com a afirmação de que quem começou a treta que termine. Já nesta sexta (25), Trump disse que as tarifas contra a China continuarão a menos que o país ofereça algo em troca.
Brasil na mira
O presidente americano não só não poupou comentários ao Brasil como parece ter o direcionado mais para o alvo. Em entrevista a uma revista americana, ao defender sua política protecionista, Trump disse que o país é um dos que “sobreviveram” e “ficaram ricos” ao aplicar tarifas a produtos americanos.
Movimentação do mercado mundial
No começo da semana, a Organização Mundial do Comércio (OMC), órgão que trabalha como juiz para garantir relações justas entre os países, falou sobre os impactos dessa guerra comercial. Para a OMC, se os EUA mantiverem as tarifas de importação nos níveis de antes do aumento anunciado em 2 de abril, o comércio do mundo deve crescer 2,7% neste ano. Por outro lado, se aumentar as tarifas, o comércio pode ter uma queda de 0,2% em relação ao ano passado – ou até maior caso outros países apliquem retaliações.
Mas há cheiro de estabilidade
Em meio às recentes movimentações do governo americano, o cenário financeiro mundial começou a dar sinais de maior estabilidade, principalmente nos EUA. O principal indicador dessa mudança é a queda no índice VIX, que mede a volatilidade do mercado e aponta o nível de incerteza entre os investidores. O índice caiu 21,1% na última semana, mas como já subiu 33,1% só em abril, mostra que o mercado ainda está longe da tranquilidade.
Apesar da queda recente na volatilidade, a procura por dólares não aumentou e o DXY, índice que mede o desempenho do dólar comparado a outras moedas, caiu pela terceira semana seguida. Esse cenário favorece moedas de países em desenvolvimento, como o real.
O setor de energia também sentiu os impactos nos últimos dias: o preço do petróleo tipo Brent voltou a subir depois de cair por duas semanas. Mesmo assim, a expectativa anual ainda é de queda. O reflexo do movimento recente foi que a Petrobras anunciou uma redução no preço do litro do diesel.
Somadas as quedas nos índices VIX e DXY e recuperação recente do preço do petróleo, o real valorizou 0,3% em relação ao dólar. Com a redução da instabilidade nos mercados americanos, há uma expectativa de que a moeda brasileira continue se fortalecendo nas próximas semanas.
Semana 14 a 18 de abril: agora, a tarifa para a China é de 245%
A medida mais recente – e preocupante – foi anunciada nesta semana: o governo americano elevou as tarifas de importação e alguns produtos chineses serão taxados em 245%.
A China, por sua vez, respondeu barrando a compra de aeronaves da Boeing por companhias chineses e também a exportação de materiais críticos para a produção industrial de defesa, veículos e eletrônicos, como os Elementos Terrras Raras.
E o Brasil? O Brasil prepara uma missão empresarial aos EUA, liderada pela CNI, em maio, em que parlamentares e empresários farão uma série de agendas para negociar saídas para o Brasil.
O impacto da guerra comercial já começa a refletir nos preços globais, nas cadeias produtivas e nas relações econômicas entre as duas maiores potências do mundo. Os mercados demonstraram preocupação, as empresas estão correndo atrás de alternativas logísticas, e os consumidores já estão começando a sentir no bolso — principalmente com eletrônicos, carros e energia ficando mais caros.
Uma das últimas notícias foi do presidente da China, Xi Jinping, pedindo ao Camboja que “resista ao protecionismo”. O clamor foi feito durante viagem ao Sudeste Asiático, nesta quinta-feira (17), já que as tarifas dos EUA ameaçam as economias de ambos os países.

Como o mundo está reagindo?
Big Techs
• Grandes empresas americanas (como Apple, Tesla) estão tentando diversificar cadeias de suprimento, movendo produção para países como Índia, Vietnã e México.
Brasil

• Para o Brasil, a tarifa imposta pelos Estados Unidos foi de 10%;
• Se mantém em um misto de moderação diplomática, ações pontuais e estratégias de contenção de danos, sem entrar diretamente no conflito. Optou por evitar escaladas e proteger setores exportadores;
• O país aprovou um Projeto de Lei (PL), a chamada Lei da Reciprocidade, autorizando formalmente o Brasil a adotar contramedidas comerciais contra países que imponham barreiras unilaterais às exportações brasileiras, como uma carta na manga, mas o posicionamento é de manter o diálogo antes de qualquer atitude mais equivalente.
Canadá

• Iniciou três ações formais na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas aplicadas pelos EUA sobre produtos canadenses de aço e alumínio e de automóveis e autopeças;
• Impôs uma tarifa de 25% sobre uma lista de produtos americanos, em vigor desde 4 de março, com isenção temporária de um mês para itens previstos no Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
China

• Em resposta às tarifas de 10% anunciadas pelos EUA em 1º de fevereiro, a China aplicou tarifas de 10% a 15% sobre produtos como carvão, automóveis e petróleo;
• Em 4 de março, adotou novas medidas retaliatórias, incluindo tarifas sobre produtos agrícolas, inclusão de itens em listas de controle de exportação, atualização da lista de entidades não confiáveis e abertura de investigação anticircunvenção (apuração de práticas comerciais que podem frustrar a aplicação de medidas antidumping);
• A partir daí, houve uma sucessão de retaliações: os EUA aplicaram tarifa de 34%, respondida pela China com mesma alíquota; os EUA elevaram para 84%, e a China replicou; e os EUA chegaram a 245%;
• A China abriu duas ações formais na OMC: contra a tarifa unilateral de 20% e contra a tarifa recíproca aplicada pelos EUA.
União Europeia

• Reativou tarifas retaliatórias sobre aço e alumínio, impostas em 2018 e 2020, durante o primeiro mandato de Trump;
• Abriu consulta pública sobre uma nova lista de produtos norte-americanos que poderão ser alvo de possíveis contramedidas; mas adiou a implementação das retaliações para preservar o espaço de negociação com os Estados Unidos.
Fonte: Portal CNI