A energia eólica offshore (em alto-mar) indica o futuro da energia limpa para a indústria pesada em várias partes do mundo, enquanto o Brasil e a Colômbia despontam para liderar na América Latina, é o que afirma o Conselho Global de Energia Eólica (GWEC – sigla em inglês) em seu relatório sobre o cenário de 2024, divulgado agora.
Os dois países são os únicos latino-americanos a aparecer como destaque na publicação de 153 páginas. O relatório aponta o Brasil como um grande player da energia eólica offshore, com um potencial de 700 GW, com fatores de alta capacidade acima de 52% em áreas costeiras e destaque para os estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. “O país possui vários portos favoráveis para a implementação de energia eólica offshore após algumas adaptações”, diz o texto.
O relatório faz uma ressalva sobre os desafios que o Brasil enfrenta, como a necessidade de regulamentar o setor de forma clara e superar obstáculos políticos que atrasam projetos de energia eólica offshore. O Marco legal para as Eólicas Offshore que tramita desde 2022 no Congresso, foi permeado por uma série de emendas “jabutis“, que buscam gerar incentivos justamente às energias fósseis, que concorrem com o crescimento das renováveis. Da forma como está, a lei pode deformar ainda mais o setor elétrico com novos subsídios para energia cara e suja, em vez de promover a energia barata do vento em alto-mar.
A publicação explica que as indústrias representam 20% do PIB brasileiro e consomem uma grande parcela da eletricidade, fazendo da expansão das energias renováveis um elemento crucial para o crescimento industrial. Empresas como Vale e ArcelorMittal já estariam apresentando metas agressivas para alcançar zero emissões líquidas e utilizar 100% de eletricidade renovável até 2050. A Vale, por exemplo, investe em energia eólica, solar e hidrelétrica para alimentar suas operações de mineração e logística, contribuindo também para a rede energética global, destaca o levantamento.
O GWEC destaca a necessidade de reforçar as linhas de transmissão no Brasil para os empreendedores que desejam se conectar à rede e aumentar as opções de financiamento para a tecnologia.
Já no caso da Colômbia, o GWEC aponta a energia eólica offshore como uma forma de aumentar a resiliência, para reduzir sua dependência da energia hidrelétrica, cada vez mais impactada pela mudança climática e secas provocadas pelo El Niño. Segundo o relatório, o país poderia implantar 50 GW de capacidade eólica offshore “em vários cenários”, mas precisa estabelecer um quadro político que inclua a participação de agências marítimas, de energia e de petróleo e gás, além de investir em infraestrutura portuária especializada para novos projetos.
O estudo explica que os primeiros projetos provavelmente só entrarão em operação no início da próxima década. “Com um pipeline de projetos de mais de 180 GW no Brasil e algum progresso feito na Colômbia, o primeiro projeto de energia eólica offshore em escala de utilidade provavelmente entrará em operação na América Latina no início dos anos 2030”, aponta o relatório.
“O progresso nas políticas – especialmente na região da Ásia-Pacífico e nas Américas – nos colocou no caminho para regularmente instalar capacidades recordes todo os anos, e ultrapassar a meta de 380 GW estabelecida pela Global Offshore Wind Alliance”, comemora Ben Backwell, CEO do Global Wind Energy Council. “Isso significa que a energia eólica offshore está a caminho de alcançar a ambição de triplicação estabelecida na COP28 em Dubai.”
Cenário global
Segundo o GWEC, a eletricidade dos ventos em alto-mar está preparada para um crescimento verdadeiramente global depois de 2023 ter registado o segundo maior número de instalações anuais. O documento destaca também desenvolvimentos políticos importantes em diferentes geografias que estabeleceram as bases para uma expansão vigorosa na próxima década.
Em 2023, apesar dos desafios macroeconômicos enfrentados pelo setor em alguns mercados-chave, a indústria eólica instalou no mundo 10,8 GW de nova capacidade eólica offshore, elevando o total global para 75,2 GW. A nova capacidade aumentou 24% em relação ao ano anterior, uma taxa de crescimento que o GWEC espera que continue até 2030, se o atual apoio político for mantido.
Nos próximos dez anos, o GWEC prevê que serão instalados 410 GW de nova capacidade eólica offshore, alinhando a implantação da energia eólica offshore com as metas globais de instalação de 380 GW até 2030. Esta rápida expansão da implantação dependerá de uma colaboração crescente entre indústria e governos e na criação de políticas e regulamentações simplificadas e eficazes, diz o texto.
Além do Brasil e da Colômbia liderando na América Latina, a próxima onda de mercados eólicos offshore deve contar com forte expansão na Austrália, no Japão, na Coreia do Sul, nas Filipinas, no Vietnã, na Irlanda e na Polônia. Esses países são citados no relatório como locais onde os desenvolvimentos políticos e a cooperação sem precedentes entre governos, indústria e sociedade civil estão estabelecendo as condições para o desenvolvimento eólico offshore no longo prazo e em grande escala.
“A energia eólica offshore agora é muito mais do que uma história europeia, chinesa ou americana. No último ano, o GWEC viu um progresso rápido em novos mercados onde os principais motores para a energia eólica offshore estão agora em vigor – desde compromissos governamentais para o crescimento econômico sustentável, até aumento da demanda do consumidor e a descarbonização industrial”, afirma Backwell.
“Esta nova onda de mercados de energia eólica offshore está prestando atenção e fazendo progressos próprios, em alguns casos superando o rótulo de ’emergentes’ graças à forte colaboração entre a indústria e os formuladores de políticas”, avalia Rebecca Williams, estrategista-chefe do setor de eólica offshore do GWEC.
Sobre o GWEC – O GWEC é uma organização baseada em membros que representa todo o setor de energia eólica. Os membros do GWEC representam mais de 1.500 empresas, organizações e instituições em mais de 80 países, incluindo fabricantes, desenvolvedores, fornecedores de componentes, institutos de pesquisa, associações nacionais de energia eólica e renovável, fornecedores de eletricidade, empresas financeiras e de seguros.
Fonte: tnpetroleo